A relação entre a Geração Z e o universo dos animes tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, país que se consolidou como um dos principais mercados da Crunchyroll no mundo. Em uma conversa com Luiz Menezes, fundador da Trope, consultoria especializada nas gerações Z e Alpha, Roberta Fraissat, Diretora de Marketing da Crunchyroll no Brasil, falou sobre como o “jeitinho brasileiro” molda o modo único com que essa geração consome conteúdo animado.

Segundo Fraissat, uma pesquisa recente revelou que 54% dos jovens entre 12 e 27 anos se conectam profundamente com animes, especialmente pela riqueza emocional dos personagens e pelas narrativas construídas em camadas. "Eles se identificam tanto que pedem spin-offs e querem prolongar a experiência, seja por meio de eventos, ativações ou games", explicou. Essa profundidade emocional transforma o anime em algo que vai além do entretenimento, tornando-se parte da identidade do público.

Essa imersão se reflete em dados impressionantes: 85% dos assinantes da Crunchyroll são das gerações Z e Millennial, com consumo frequente e engajado, especialmente aos domingos, segundo os próprios relatórios da empresa. Essa audiência exige proximidade, e é por isso que a marca investe pesado na escuta ativa de sua base. Uma das formas de fazer isso é por meio dos creators, que em eventos presenciais, além de interagirem com os fãs, entregam percepções riquíssimas para as decisões de marketing. “Só de estar ao lado deles, escutando as conversas com os fãs, já extraímos insights valiosos para campanhas e iniciativas”, contou Fraissat.

Foto: Banco de Imagens Gratuito-Pixbay

Essa abordagem vai ao encontro do que Luiz Menezes defende. “Em vez de apostar em fórmulas genéricas, as marcas precisam entender as as narrativas que existem na internet e que acontecem dentro das microculturas para desenvolver estratégias para comunidades específicas”, destaca. Esse é um ponto que diferencia a Crunchyroll de outras empresas, como indica a pesquisa "Quais são as dificuldades das empresas brasileiras com a Geração Z?", realizada pelo InstitutoZ em parceria com a MMA Latam e apoio da Share. O estudo mostra que 60% das companhias têm dificuldade em falar com a GenZ em mídias tradicionais, 33% não sabem como se comunicar com esse público nas redes sociais, e 41% enfrentam problemas em eventos e ativações. Além disso, 49% relatam dificuldades em estabelecer relações com influenciadores da nova geração, cenário bem diferente da estratégia adotada pela Crunchyroll.

A plataforma também compreendeu que o consumo de anime se estende para o estilo de vida. Roupas, mangás, colecionáveis, objetos de decoração e até comidas inspiradas em personagens fazem parte desse movimento. “Animes falam de sentimento, emoção. Por isso, os fãs querem viver essas histórias no cotidiano. É uma transformação cultural, não apenas uma moda”, reforça Fraissat. A pesquisa "Geek Power", apresentada pela Omelete Company no fim de 2024, confirma isso. Animes aparecem como as principais pontes entre marcas e a Geração Z, sendo um terreno fértil para criar conexões genuínas com esse público.

Além do engajamento emocional, há também um dado estratégico por trás do sucesso. O Brasil é o segundo maior mercado da Crunchyroll em número de assinantes, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo anunciou Rahul Purini, presidente global da plataforma, durante a CCXP24. Na ocasião, ele destacou que o país também figura entre os três primeiros em engajamento e audiência no Crunchyroll Anime Awards. “O Brasil tem um amor e uma história incrivelmente únicos por anime, e queremos ser tudo para os fãs brasileiros, como, quando e onde quiserem consumir anime”, afirmou Purini, reforçando os investimentos em dublagens, eventos e ações locais.

Produções recentes como Solo Leveling, vencedora do Anime Awards, e o aguardado Gachiakuta, que teve pré-estreia promovida no Brasil, são exemplos do equilíbrio que a Crunchyroll busca entre os clássicos, como Dragon Ball e Naruto, e as novidades que dialogam com os valores contemporâneos da Geração Z. Esses títulos refletem não só o gosto atual do público, mas também ajudam a definir o que será considerado "clássico" nas próximas décadas.