A síndrome do fim de ano é um fenômeno que afeta muitas pessoas que, muitas vezes, podem não se perceber diante dessa situação. De acordo com especialistas, a síndrome se caracteriza por um misto de sentimentos e sintomas, que se assemelham à ansiedade, frustração e certa melancolia por conta de expectativas que não foram realizadas. Além disso, está relacionada a diversos fatores, como as pressões pessoais, sociais, comparação com outras pessoas, entre outros aspectos. Embora pareça sutil ou conceitualmente abstrata para uma parte da população, esse problema precisa de atenção e, por isso, especialistas refletem durante todo o ano sobre a importância de uma saúde integral, que envolva a saúde da mente.
De acordo com a psicóloga e professora do Unifacid Wyden, Kalina Galvão, as pressões pessoais envolvem as idealizações e projeções que não foram realizadas devido às condições “que estávamos envolvidos e trazemos uma culpa desnecessária. Temos, ainda, uma pressão social para que nós possamos dar conta e responder à sociedade que conseguimos fazer determinada coisa. Existe uma cobrança de resultados e comparação com as outras pessoas”, observa. Contudo, alerta que “precisamos lembrar que tudo isso que colocamos como meta para realizar ao final e início de cada ano, muitas vezes não nos apercebemos das nossas condições, que são totalmente diferentes das outras pessoas e isso acaba trazendo esse misto de sentimentos, essa síndrome de fim de ano”, explica.
Com relação aos sintomas mais comuns, inclui a tristeza e melancolia, geralmente acompanhados por uma sensação de vazio, uma falta de sentido na vida e culpabilidade. Há sintomas de ansiedade e irritabilidade, alteração do humor mais perceptivo ou dificuldade de relaxar devido essa cobrança excessiva. “Em consequência, vem um outro efeito, que é o cansaço e exaustão, além de alterações no sono e apetite. Também existe a dificuldade de concentração. Esses fatores são interligados e esses sintomas vão afetar o bem-estar e qualidade de vida das pessoas”, pontua Kalina.
A psicóloga ainda acrescenta que é comum e normal chegar ao final do ano e não ter cumprido algumas metas estabelecidas com entusiasmo. “Por isso, o fundamental é buscar entender o que impediu de alcançar determinado objetivo, avaliar como você estava dentro daquele contexto e período da sua vida e, assim, reavaliar e entender como pode readequar essa meta de forma realista”, compartilha.
Estabelecer metas tende a motivar o cérebro, mas é preciso cautela
Segundo Leonardo Halley, médico neurologista e professor do Instituto de Educação Médica (IDOMED), o cérebro libera dopamina, que é um neurotransmissor associado ao prazer e à motivação quando são estabelecidas metas. “Ao definirmos esses propósitos, o cérebro antecipa a sensação de motivação, que nos impulsiona a alcançar novos objetivos. Durante o novo ano, essas resoluções frequentemente envolvem mudanças no estilo de vida e isso aciona um sistema de recompensa”, explica. Isso porque o final do ano é um momento de reflexão natural, no qual “o cérebro avalia o que foi feito e o que precisa ser mudado. Essa reflexão pode ser uma tentativa de melhorar e reorganizar os padrões de comportamento”, endossa o Dr. Leonardo.
Certamente, é importante que façamos o movimento de planejar, porque o cérebro tende a associar o período do início do ano com um novo começo, mas sempre com cautela. O Dr. Leonardo compartilha dicas para auxiliar no desenvolvimento do cérebro de forma favorável: prática regular de atividade física; alimentação saudável; desafios cognitivos; dormir bem; gestão do estresse; procurar atividades de socialização sempre que possível (o convívio em comunidade); ler sempre para estar em aprendizagem de temas novos; evitar ser multitarefa (pois isso pode prejudicar o cérebro); praticar técnicas de relaxamento e buscar novas experiências/hobbies.
A psicóloga Kalina reitera que, para o novo ano, é preciso pensar em estratégias mais realistas ao observar a própria rotina, o contexto e possibilidades. Dentro disso, nunca fazer comparações com outras pessoas. Além disso, “evitar metas muito ambiciosas, que são aquelas que precisamos dar um salto e mudanças muito grandes na vida que vão impactar nossos hábitos saudáveis. A orientação é dividir metas em pequenas etapas para que possamos perceber nosso processo e evitar sobrecarga. A flexibilização é um ponto importante, pois é preciso entender que nem tudo vai ser conforme planejamos. Aprenda a celebrar as pequenas conquistas”, conclui.
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